Google+ O MEU POVO PERECE POR FALTA DE CONHECIMENTO.: O que dizem os pais da igreja sobre o livre-arbítrio? (A Falácia do CACP)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

O que dizem os pais da igreja sobre o livre-arbítrio? (A Falácia do CACP)

O que dizem os pais da igreja sobre o livre-arbítrio? (A Falácia do CACP)



Li um artigo no site do CACP (Centro Cristão Apologético de Pesquisa) afirmando que os pais da Igreja eram defensores do livre arbítrio. A informação não é de todo estranha uma vez que o referido toma como fonte as citações do teólogo e filósofo Norman L Geisler em seu livro Eleitos, mas livres. A minha estranheza se deu pelo fato do autor conseguir enxergar livre arbítrio na Bíblia [aqui]. 

Falo assim, porque enxergo uma distância muito grande entre o suposto direito de escolha e a liberdade para de fato obedecer a lei, ou os mandamentos do Senhor. Mas para que arminianos não digam que estou vendo coisas que não existem na Bíblia, vou tecer algumas considerações a respeito da visão do Deuteronômio e a lei. 

Deus disse, por meio de Moisés: Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição (Dt 11. 26 ACF). Agora preste atenção neste texto: 
Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, Amando ao Senhor teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque, e a Jacó, que lhes havia de dar (Dt 30. 19, 20 ACF). 
Uma leitura superficial pode dar a entender que o texto seja uma clara defesa do livre arbítrio. Nada mais enganoso. Por quê? Simples, qualquer seminarista e aluno da escola bíblica dominical sabe que a Bíblia é a fiel interprete de si mesma. Qual o evangélico devidamente ambientado que nunca ouviu a frase texto sem contexto é pretexto para heresia? Agora a pergunta crucial, por que o contexto de Deuteronômio não é levando em conta quando se quer ver aqui o que não há - a doutrina do livre arbítrio? 

Um primeiro fator a ser levado em conta é que a leitura da lei em Deuteronômio, toma como certa a possibilidade de que Israel não a cumpriria. Não se trata de um conhecimento antecipado dos atos futuros do povo, mas também de um conhecimento pessoal. Deus sabe que o povo é de dura cerviz, logo, eles não possuem um coração disposto a obedecer a voz de Deus, bem como aos seus mandamentos. 

Uma particularidade da Teologia do Dt é que ali a centralidade da piedade é colocada no coração. A obediência aos mandamentos deve ser baseada no amor a Deus de todo o coração (Dt 6. 5, 6; 11. 13). A sabedoria judaica entende que o coração é o local de onde procedem as saídas da vida (Pv 4. 23). E no Dt há uma antecipação de que o coração tem de ser circuncidado (operado para que as impurezas sejam removidas). Veja então o texto abaixo:
E sucedeu que, ouvindo a voz do meio das trevas, e vendo o monte ardendo em fogo, vos achegastes a mim, todos os cabeças das vossas tribos, e vossos anciãos; E dissestes: Eis aqui o Senhor nosso Deus nos fez ver a sua glória e a sua grandeza, e ouvimos a sua voz do meio do fogo; hoje vimos que Deus fala com o homem, e que este permanece vivo. Agora, pois, por que morreríamos? Pois este grande fogo nos consumiria; se ainda mais ouvíssemos a voz do Senhor nosso Deus morreríamos. Porque, quem há de toda a carne, que ouviu a voz do Deus vivente falando do meio do fogo, como nós, e ficou vivo? Chega-te tu, e ouve tudo o que disser o Senhor nosso Deus; e tu nos dirás tudo o que te disser o Senhor nosso Deus, e o ouviremos, e o cumpriremos. Ouvindo, pois, o Senhor as vossas palavras, quando me faláveis, o Senhor me disse: Eu ouvi as palavras deste povo, que eles te disseram; em tudo falaram bem. Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre. Vai, dize-lhes: Tornai-vos às vossas tendas. Tu, porém, fica-te aqui comigo, para que eu a ti te diga todos os mandamentos, e estatutos, e juízos, que tu lhes hás de ensinar, para que cumpram na terra que eu lhes darei para possuí-la. Olhai, pois, que façais como vos mandou o Senhor vosso Deus; não vos desviareis, nem para a direita nem para a esquerda. Andareis em todo o caminho que vos manda o Senhor vosso Deus, para que vivais e bem vos suceda, e prolongueis os dias na terra que haveis de possuir (Dt 5. 23 - 33 ACF). 
Perceba que mesmo ordenando ao povo que cumpra com os mandamentos Deus sabe que o mesmo não possui um coração que o tema. 
Estas são as palavras da aliança que o SENHOR ordenou a Moisés que fizesse com os filhos de Israel, na terra de Moabe, além da aliança que fizera com eles em Horebe. E chamou Moisés a todo o Israel, e disse-lhes: Tendes visto tudo quanto o Senhor fez perante vossos olhos, na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra; As grandes provas que os teus olhos têm visto, aqueles sinais e grandes maravilhas; Porém não vos tem dado o Senhor um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje (Dt 29. 1 - 4 ACF).  
Este texto deixa vlaro que somente mediante uma intervenção divina o homem pode vir a ter um novo coração e com este a disposição, ou como diria Edwards a motivação correta para temer a Deus e obedecê-lo. 

Aqui convém deixar claro que pouco importa a falsa solução que o arminianismo dá para esta questão, se a graça é soberana, ou preveniente. O fato é que sem que Deus intervenha, sem que o coração seja mudado, não há a mínima possibilidade de que o homem satisfaça as condições exigidas na lei. 

Assim, Deus pede para que o povo escolha (Dt 30. 19, 20), mas sabe que o povo não escolherá, tanto que o exílio já é previsto (Dt 30. 1 - 4), como é prevista que a libertação do mesmo se dará mediante a circuncisão que Deus fará no coração humano. 

Concluo que não há na Bíblia espaço para que se creia em algo como livre arbítrio. quanto as citações dos pais da Igreja é necessário maior material para que se saiba o que os mesmos pretendem combater. Com toda certeza não é o Calvinismo, e menos ainda o Arminianismo, visto que ambas são leituras históricas da Bíblia com a fins de resolução de problemas históricos específicos que não foram sequer cogitados pelos cristãos primitivos. Mas falarei mais a respeito em outro artigo. 

Abraços calvinianos em Cristo. Marcelo Medeiros. 

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