FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA
A palavra teologia vem da conjugação de TÉOS e LÓGOS, dois termos gregos. Poder-se-ia dizer que teologia é todo discurso acerca de Deus. Assim, por exemplo, foi denominado por Aristóteles em seu livro “Filosofia Primeira”, que hoje conhecemos com o nome de metafísica. Para Aristóteles o TÉOS seria objeto de pesquisa da maior de todas as ciências: a ciência do ser enquanto ser – esta que hoje denominamos de metafísica. Portanto, para ser estagirita – Aristóteles, a metafísica, ou seja, a filosofia primeira, é sinônimo de teologia.
Apesar de podermos falar de teologia em um
sentido lato, tal como abordamos acima, atualmente o significado deste termo
difere-se deste que expusemos. Teologia hoje é o discurso racional acerca de
Deus a partir dos dados advindos de um livro revelado: Bíblia, Alcorão, etc. À
teologia compete, portanto, a atualização dos dados revelados através do
discurso (lógos), segundo as exigências históricas vigentes. Com isso, se
mostra o caráter transitório do discurso teológico: a transitoriedade do
discurso deve-se à transitoriedade própria da história humana, da cultura e de
suas diversas problemáticas. Deus, por isso, deve sempre aparecer ao homem,
através do discurso teológico, historicamente situado. Esta, última informação
nos leva a perceber a imbricação necessária entre teólogo, revelação e
história.
Não obstante à imbricação supracitada, não
poucas vezes a teologia cristã se configurou de forma totalmente anacrônica em
seus discursos e, conseqüentemente, em seus conceitos. Durante séculos, a
teologia cristã se preocupou com o hyperurânio de Platão, com o motor imóvel de
Aristóteles, com a cidade de Deus de Agostinho, menos com as problemáticas
históricas que fatalmente orientavam a vida social do homem. É comum nos
depararmos com textos clássicos da teologia e sermos levados às nuvens, aos
céus, como, por exemplo, num texto de Irineu ou de S. Agostinho de Hipona. Mas,
qual a razão disto? Isto ocorreu por mera vontade dos teólogos? Certamente,
não.
A teologia cristã configurou-se de forma
anacrônica por muito tempo, devido ao instrumental filosófico que ela utilizou
para discursar acerca de Deus. Tal instrumental derivava-se da metafísica
clássica que tem como característica formular conceitos anacrônicos,
desconsiderando o caráter histórico do homem – ou seja, desconsiderando o homem
enquanto ser histórico, que se faz (constrói) no tempo. A conseqüência disto, é
que os dados da revelação cristã – Bíblia – foram entendidos como realidades
atemporais e não históricas. Por isso, por muito tempo – certamente, também
ainda hoje – entendeu-se Deus, Reino dos Céus, inferno, etc., como realidades
totalmente transcendentais, totalmente destacadas dos processos e fases
históricas da humanidade.
Esta forma de discurso acerca de Deus foi
submetida à crítica com o advento da modernidade e do pensamento contemporâneo.
A metafísica, que foi a “pedra angular” da teologia clássica, foi fortemente
criticada a partir da modernidade. Descobriu-se, após séculos de especulação, a
história como característica essencial do homem e a cultura como âmbito de toda
construção histórica. Com isso, o pensamento ocidental, largou aquele
transcendentalismo metafísico, tornando-se por isso mais imamentista. Isto
influenciou fortemente a teologia. O encontro do homem com Deus – chamado pela
teologia da GRAÇA – passou a ser pensado como realidade histórica: Deus se
manifesta ao homem situando-se histórica e culturalmente, ou seja, o encontro
de Deus com o homem difere-se na história em suas diversas épocas, e difere-se
na pluralidade cultural que se dá no seio da humanidade. Obviamente, isto gerou
certa relativização no discurso sobre Deus; porém, valorizou a historicidade
como característica essencial do ser humano, além de valorizar a multiplicidade
de formas de Deus se apresentar ao homem, superando, assim, o anacronismo
clássico metafísico que norteava o pensamento teológico no entendimento da
relação homem – DEUS.
A chamada Teologia da Libertação está inserida
nesta última fase do pensamento ocidental que destacamos acima: a fase da
valorização da história, da cultura e da diversidade de formas de manifestação
do encontro do homem com Deus. Ela é uma teologia propriamente cristã; por
isso, utiliza a Bíblia como pressuposto necessário de seus discursos.
A expressão “teologia da libertação”, já mostra
o sentido norteador deste discurso teológico. O genitivo que aparece na
expressão citada – DA LIBERTAÇÃO - mostra-nos que a libertação é o horizonte
regulador do discurso acerca de Deus, e, ao mesmo tempo, mostra-nos que o Deus
do discurso é fonte de libertação. Esta se manifesta concretamente nos diversos
momentos do processo histórico de um povo. Conseqüentemente, a teologia da
libertação torna-se força geradora de ações que viabilizam uma práxis
libertadora, segundo as necessidades advindas das diversas circunstâncias sob
as quais um povo está submetido.
“A teologia da libertação é um movimento
teológico que quer mostrar aos cristãos que a fé deve ser vivida numa práxis
libertadora e que ela pode contribuir para tornar esta práxis mais
autenticamente libertadora”.
Bibliografia: Boff, Leonardo; Boff Clodovis.
Como fazer teologia. Petrópolis: Vozes, 1986.