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segunda-feira, 31 de março de 2014

FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA 

A palavra teologia vem da conjugação de TÉOS e LÓGOS, dois termos gregos. Poder-se-ia dizer que teologia é todo discurso acerca de Deus. Assim, por exemplo, foi denominado por Aristóteles em seu livro “Filosofia Primeira”, que hoje conhecemos com o nome de metafísica. Para Aristóteles o TÉOS seria objeto de pesquisa da maior de todas as ciências: a ciência do ser enquanto ser – esta que hoje denominamos de metafísica. Portanto, para ser estagirita – Aristóteles, a metafísica, ou seja, a filosofia primeira, é sinônimo de teologia. 




Apesar de podermos falar de teologia em um sentido lato, tal como abordamos acima, atualmente o significado deste termo difere-se deste que expusemos. Teologia hoje é o discurso racional acerca de Deus a partir dos dados advindos de um livro revelado: Bíblia, Alcorão, etc. À teologia compete, portanto, a atualização dos dados revelados através do discurso (lógos), segundo as exigências históricas vigentes. Com isso, se mostra o caráter transitório do discurso teológico: a transitoriedade do discurso deve-se à transitoriedade própria da história humana, da cultura e de suas diversas problemáticas. Deus, por isso, deve sempre aparecer ao homem, através do discurso teológico, historicamente situado. Esta, última informação nos leva a perceber a imbricação necessária entre teólogo, revelação e história. 





Não obstante à imbricação supracitada, não poucas vezes a teologia cristã se configurou de forma totalmente anacrônica em seus discursos e, conseqüentemente, em seus conceitos. Durante séculos, a teologia cristã se preocupou com o hyperurânio de Platão, com o motor imóvel de Aristóteles, com a cidade de Deus de Agostinho, menos com as problemáticas históricas que fatalmente orientavam a vida social do homem. É comum nos depararmos com textos clássicos da teologia e sermos levados às nuvens, aos céus, como, por exemplo, num texto de Irineu ou de S. Agostinho de Hipona. Mas, qual a razão disto? Isto ocorreu por mera vontade dos teólogos? Certamente, não. 





A teologia cristã configurou-se de forma anacrônica por muito tempo, devido ao instrumental filosófico que ela utilizou para discursar acerca de Deus. Tal instrumental derivava-se da metafísica clássica que tem como característica formular conceitos anacrônicos, desconsiderando o caráter histórico do homem – ou seja, desconsiderando o homem enquanto ser histórico, que se faz (constrói) no tempo. A conseqüência disto, é que os dados da revelação cristã – Bíblia – foram entendidos como realidades atemporais e não históricas. Por isso, por muito tempo – certamente, também ainda hoje – entendeu-se Deus, Reino dos Céus, inferno, etc., como realidades totalmente transcendentais, totalmente destacadas dos processos e fases históricas da humanidade. 





Esta forma de discurso acerca de Deus foi submetida à crítica com o advento da modernidade e do pensamento contemporâneo. A metafísica, que foi a “pedra angular” da teologia clássica, foi fortemente criticada a partir da modernidade. Descobriu-se, após séculos de especulação, a história como característica essencial do homem e a cultura como âmbito de toda construção histórica. Com isso, o pensamento ocidental, largou aquele transcendentalismo metafísico, tornando-se por isso mais imamentista. Isto influenciou fortemente a teologia. O encontro do homem com Deus – chamado pela teologia da GRAÇA – passou a ser pensado como realidade histórica: Deus se manifesta ao homem situando-se histórica e culturalmente, ou seja, o encontro de Deus com o homem difere-se na história em suas diversas épocas, e difere-se na pluralidade cultural que se dá no seio da humanidade. Obviamente, isto gerou certa relativização no discurso sobre Deus; porém, valorizou a historicidade como característica essencial do ser humano, além de valorizar a multiplicidade de formas de Deus se apresentar ao homem, superando, assim, o anacronismo clássico metafísico que norteava o pensamento teológico no entendimento da relação homem – DEUS. 





A chamada Teologia da Libertação está inserida nesta última fase do pensamento ocidental que destacamos acima: a fase da valorização da história, da cultura e da diversidade de formas de manifestação do encontro do homem com Deus. Ela é uma teologia propriamente cristã; por isso, utiliza a Bíblia como pressuposto necessário de seus discursos.





A expressão “teologia da libertação”, já mostra o sentido norteador deste discurso teológico. O genitivo que aparece na expressão citada – DA LIBERTAÇÃO - mostra-nos que a libertação é o horizonte regulador do discurso acerca de Deus, e, ao mesmo tempo, mostra-nos que o Deus do discurso é fonte de libertação. Esta se manifesta concretamente nos diversos momentos do processo histórico de um povo. Conseqüentemente, a teologia da libertação torna-se força geradora de ações que viabilizam uma práxis libertadora, segundo as necessidades advindas das diversas circunstâncias sob as quais um povo está submetido. 

“A teologia da libertação é um movimento teológico que quer mostrar aos cristãos que a fé deve ser vivida numa práxis libertadora e que ela pode contribuir para tornar esta práxis mais autenticamente libertadora”. 




Bibliografia: Boff, Leonardo; Boff Clodovis. Como fazer teologia. Petrópolis: Vozes, 1986.

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