Google+ O MEU POVO PERECE POR FALTA DE CONHECIMENTO.: OS ANABATISTAS II - IGREJA PRIMITIVA/CREDO/CONFISSÃO

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

OS ANABATISTAS II - IGREJA PRIMITIVA/CREDO/CONFISSÃO

Anabatistas do Século XII a XVI

IDENTIFICANDO OS ANABATISTAS DO SÉCULO XII a XV 

Os anabatistas dos séculos XII ao XV são a continuação ou os descendentes diretos dos anabatistas primitivos. A única coisa que vai mudar é o sobrenome do apelido. Vimos que na primeira geração de anabatistas havia quatro grandes correntes, que ia desde o Oriente Médio até a Europa. A partir do século XII, a mais forte destas correntes (os paulicianos) fundiu sua identidade com os irmãos europeus que serão estudados neste capítulo. 

Dois grandes grupos de anabatistas apareceram neste período. Esse número pode ser bem maior, mas me falta conhecimento para integrá-los aos demais. Não é nossa ideia trabalhar com hipóteses. Trabalhamos com declarações e documentos de estudiosos no assunto de história das igrejas. Por isso consideraremos apenas dois grupos como autênticos anabatistas. São eles: Os albingenses e os Valdenses. A história de amor pela palavra de Deus, e a perseguição que sofreram decorrente deste amor, é uma das histórias mais lindas e tristes que já li. 

# OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO ALBIGENSES 

Após os quatro grupos primitivos de anabatistas os albigenses é o primeiro a se destacar como seus descendentes. Já se notou que os montanistas, donatistas e novacianos, após a investida de Roma e Constantinopla sobre eles, foram obrigados a se refugiar na região dos Pirineus, sul da Franca. Também os paulicianos a partir do século XI se fixaram nestes lugares. Foi exatamente assim que Deus guardou sua igreja pura e viva, para descobri-la novamente ao mundo e pregar as boas novas. Os velhos nomes morreram, mas a fé permaneceu a mesma. A doutrina também não mudou. Também não mudou o costume de rebatizar os católicos, e por isso todos os dois grupos eram identificados como seus antecessores, ou seja, "anabatistas". 

# A Origem dos Albigenses 

Alguns historiadores traçam a origem dos albigenses como tendo provindo dos paulicianos (Enc. Brit. I pg 45), enquanto outros afirmam que eles se achavam no sul da França desde os primeiros dias do cristianismo. Este apelido não provém do nome de um pastor famoso, como por exemplo os novacianos. É um apelido proveniente do lugar onde os anabatistas se encontravam. Albi era uma cidade no distrito de albigeois, no sul da França. 

Após a perseguição desencadeada por Roma e Constantinopla sobre os montanistas, novacianos e donatistas, estes três grupos, sem exceção, ficaram impedidos de pregar nas cidades do ocidente e do oriente onde prevalecia o poder papal. A prática de rabatizar os católicos era punida com a morte. Então, num gesto de conseguir a sobrevivência da fé e da ordem apostólica, estes grupos procuraram esconder-se nos Alpes e nos Pirineus. Ao chegarem nestes lugares perderam o antigo apelido e foram conhecidos por outros apelidos: ALBIGENSES - pelo lugar onde se refugiaram; CÁTAROS - Devido a pureza de vida que levavam; HOMENS BONS - Pela inegável integridade desses crentes; e ANABATISTAS - por rebatizaram os que vinham do catolicismo romano ou ortodoxo. 

Não existia diferença entre as doutrinas dos recém-chegados a esse refugio - como foi o caso dos paulicianos - e os anabatistas já instalados ali há quase um milênio - a saber, os montanistas, novacianos e donatistas. Mesmo vindos de cantos totalmente diferentes e de diversos lugares do mundo antigo, ao chegarem nos vales dessas montanhas, uniam-se facilmente uns com os outros. O crescimento dos anabatistas neste lugar fez o dr. Allix calcular o seu número em três milhões e duzentos mil pessoas só nos Pirineus. (O batismo Estranho e os Batistas, pg 63). É maravilhoso saber como Deus guardou os anabatistas por tantos séculos e depois ajuntou-os num mesmo lugar. É maravilhoso saber que a podridão do catolicismo não conseguiu penetrar nessas igrejas de Jesus Cristo por todos estes séculos. 

# Perseguição contra os albigenses 

Qualquer pessoa pode por si mesma fazer um estudo minucioso sobre as atrocidades cometidas contra os albigenses. O que o catolicismo fez por mais de um século contra esse grupo de anabatistas pode ser lido em qualquer biblioteca de uma simples escola pública. Basta pegar uma enciclopédia e abrir na página de Inocencio III. Este papa católico foi um dos muitos que mataram friamente anabatistas por mais de mil e trezentos anos. Só que as atrocidades deste papa foram todas registradas e não podem ser escondidas da sociedade. Para a igreja católica ele é um santo. Para mim o mais usado por Satanás de seu tempo. 

O Papa Inocencio III (1198-1216) desencadeou contra os anabatistas de albi o que foi chamada de "a quarta cruzada". A chacina, iniciada em fins do século XII, iria se prolongar até meados do século XIII. Centenas de milhares de albigenses - também chamados de cátaros e bons homens, foram cruelmente assassinados pelo mandato papal. Houve em 1167 na cidade de Toulouse o chamado "concílio albigense". Assunto: Tratar simplesmente dos hereges anabatistas que lá viviam. O resultado desse concílio foi a quarta cruzada posta em vigor pelo papa Inocencio III. 

Em 22 de Julho de 1209, quase toda a população de Béziers foi massacrada. O papa Inocencio e seus sucessores, em nome de Deus, matava anabatistas como se mata porcos. Alguns albigenses que conseguiram se refugiar em Montségur (foram estes os últimos albigenses anabatistas a assim serem chamados), conseguiram sobreviver até o ano de 1244. O escritor Nicolas Poulain assim descreveu o seu fim: 

"A 16 de Marco de 1244, os sitiadores prepararam uma enorme fogueira no sopé do rochedo de Montségur. Então, os 200 sobreviventes saíram do refúgio e desceram em lenta procissão até seus carrascos. Os sãos sustinham os enfermos; de mãos dadas, entoavam hinos religiosos. Entre eles, havia uma mãe com sua filha doente... impassíveis, todos entraram nas chamas... o local onde foi erguida a fogueira ainda é conhecido como o "campo dos queimados"; ali se erigiu uma esta funerária onde foi gravada a seguinte inscrição:
"EM MEMÓRIA DOS CÁTAROS, MÁRTIRES DO PURO AMOR CRISTÃO." 

E ainda há quem defenda um homem como Inocencio III. E ainda há quem ache a igreja católica ser a igreja que Jesus deixou. Não, não é. Deus não tem assassinos como pastores. Sua igreja não é uma igreja assassina, pois, "a porta do inferno não prevalecerá contra minha igreja." Se leitor duvida do que aqui está escrito procure saber por si mesmo a verdade. Mas busque a verdade. 

# OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO VALDENSES

A perseguição que o papado moveu contra os albigenses durante várias décadas fez os anabatistas a se deslocarem para muitos lugares. O nome albigense era sinônimo de morte. Surgiu então um outro apelido para designar os anabatistas deste tenebroso período. Foram chamados de Valdenses. 

# A Origem dos Valdenses 

Os livros relatam que os valdenses se originaram de um rico comerciante de Lion em ll76. Seu nome era Pedro de Valdo, daí valdenses. Mas a verdade é que esse grupo é uma continuação dos albigenses. Vendo os anabatistas albigenses que a perseguição no sul da França não ia ter fim - como não teve - fugiram para outras locallidades. Em suas fugas iam evangelizando e rumando sempre para o norte da Europa. Foi onde Pedro de Valdo se converteu, e por ser famoso, os inimigos logo apelidaram os antigos albigenses de Valdenses. 

Significativo é o depoimento de Raisero Sachoni. Ele foi por dezessete anos um dos mais ativos pregadores dos "Cátaros" ou "Valdenses". Mais tarde uniu-se à ordem dominicana apostatando da fé. Tornou-se um acérrimo inimigo dos Valdenses, e por isso o papa fe-lo inquisitor da Lombardia. Por muitos anos, até sua morte, acusou e mandou matar seus ex-irmãos anabatistas. Foi um judas. Sua opinião sobre a origem dos valdenses é como se segue: 

"Entre todas as seitas não há mais perniciosa à igreja (católica é claro) do que os valdenses. Por três razões: Primeira, porque é a mais antiga, pois alguns dizem que data do tempo de Silvestre, 325 A.D. (Silvestre foi o papa que junto com Constantino condenou os donatistas, montanistas e novacianos), outros ao tempo dos apóstolos. Segunda, é a mais largamente espalhada, porque dificilmente haverá um país onde não existam. Terceira, porque, se outras seitas horrorizam aos que a ouvem, os valdenses, pelo contrário, possuem uma grande aparência de piedade. Como matéria de fato, eles levam vidas irrepreensíveis perante os homens e no que respeita a sua fé, aos artigos do seu credo, são ortodoxos. Sua única falta é que blasfemam contra a igreja e o seu credo". 

O testemunho desse apóstata é muito importante. Não é fácil para um legado católico dizer que "datam do tempo de Silvestre ou dos apóstolos". Outro escritor, dessa vez um francês, Michelet, diz na Historie de France, II, pg 402, Paris 1833: "Os valdenses criam numa continuidade secreta através da Idade Média, igual a da Igreja Católica". E Neander adiciona na History of the Christian, pg 605, Vol. IV, 1859: "Não é sem fundamento a afirmação dos valdenses deste período (1100 em diante), a respeito da antigüidade de sua seita, e que tinha havido, desde o tempo da secularização da igreja, a mesma oposição (a igreja Romana) que eles sustentavam". 

Os historiadores que se tem especializado na história dos valdenses sustentam a idéia de que as doutrinas dos valdenses não se originaram com Pedro Valdo. Diz Faber, The Waldenses and Albigenses: 

"A evidencia que acabo de produzir, prova, não somente que os valdenses e albigenses existiram antes de Pedro de Lião; mas também, que no tempo do aparecimento dele nos fins do século doze, havia duas comunhões de grande antigüidade (O autor refere-se aos albingenses e valdenses ao dizer que existias duas comunhões). Segue-se, portanto, que mesmo nos séculos doze e treze, as igrejas valdenses eram tão antigas, que a sua origem remota foi atribuída, mesmo pelos seus inimigos inquisitoriais, ao tempo além da memória do homem. Os romanistas mais bem informados do período, não ousaram fixar a data da sua origem. Eram incapazes de fixar a data exata dessas veneráveis igrejas. Tudo que se sabe é que eles tinham florescido ao longo do tempo, e que eram muito mais antigos do que qualquer seita moderna". 

Portanto, a se alguém quer saber a origem dos valdenses saiba que, apesar de receberem esse apelido somente a partir de 1100, já eram conhecidos como albigenses, paulicianos, donatistas, novacianos e montanistas. Tinham de diferente apenas o apelido, mas eram todos de uma mesma comunhão. Também todos, sem exceção, foram chamados de "anabatistas". O fato de aparecer paralelamente no mesmo período albigenses e valdenses, não quer dizer que os valdenses não seja uma continuação dos albigenses. Quer dizer que durante um período de mais ou menos meia década, enquanto o apelido albigense caía em desuso, crescia o nome valdense. É o que chamo de período de transição. O estudante notará que a mesma coisa aconteceu no século XVI. Neste período, enquanto caía o apelido anabatista, surgia o apelido batista. 

#A doutrina dos valdenses 

Suas doutrinas eram idênticas a dos primitivos anabatistas. Há dois documentos datados de cerca do ano 1260 A.D. escritos por católicos que descrevem os valdenses: Um deles diz: "os valdenses vestiam com relativa simplicidade, comiam e bebiam moderadamente, sempre laboriosos estudiosos, havendo entre eles muitos homens e mulheres que sabiam de cor todo o novo testamento". 

O outro documento é o tratado de Davi de Augsburgo, escrito sobre os "pobres de Lião" ou valdenses, e impregnado de ódio e antipatia. Este documento diz que os valdenses proclamavam-se "discípulos de Cristo e sucessores dos apóstolos" e quando eram excomungados, regozijavam-se com o fato de terem de sofrer perseguição como outrora os apóstolos, "nas mãos dos escribas e fariseus". O documento informa que eles rejeitavam os milagres eclesiásticos e os festivais, ordens, bênçãos, etc., dizendo que essas coisas foram introduzidas pelo clero cobiçoso; batizavam os que abraçavam seus princípios, dizendo alguns deles que o batismo de crianças não vale nada, pois elas são incapazes de crer. Não criam que o sangue e o corpo de Cristo estão na eucaristia, limitando-se a abençoar o elemento como um símbolo. Celebravam a ceia, recitando palavras do evangelho; negavam o purgatório, o concubinato, o sacerdotalismo, o legalismo, etc. 

# A Perseguição dos Valdenses 

Assim como os albigenses os valdenses foram tenazmente perseguidos pela Igreja Católica. A Inquisição matou, queimou, afogou, esfolou, torturou e fez muito mais para destruir os valdenses. Só para o estudante ter uma idéia, o Papa João XXII (1316-1334), tendo um rendimento farto e regular dos impostos criados por ele mesmo, gastava 63% do tesouro papal para financiar a guerra contra os anabatistas e os muçulmanos. (O Papado na Idade Média, pg 140 e 143). O papado obrigou o povo a pagar impostos com o intuito de financiar guerras visando o extermínio dos anabatistas. Em todos os países era passada a chamada "rota romana" com os ad doc - que significa "a isto" - pressionando e atormentando o povo a pagar o tributo para o papa. 

No final do século XV os valdenses ainda estavam de pé. Suas forças estavam nos vales dos Alpes. Tinham uma escola prática em Milão e de ramificações em zonas distantes como a Calária e a Apúlia. Possuidores de um noviciado e de seminários independentes, os valdenses punham em campo uma grande quantidade de missionários itinerantes, os quais, conheciam de cor longas passagens dos evangelhos e das epístolas. 

Infelizmente muitos se ligaram com os hussitas na Boêmia e com os Lolardos na Inglaterra. Isso degradou em muito a pureza de muitas igrejas valdenses, pois estas igrejas, assim como as protestantes, pregavam uma fé que podia-se pegar em armas para defender direitos. No século XVI a euforia da reforma também varreu uma grande parte dos valdenses. Acredito que isso destruiu o grupo como denominação. Alguns se aliaram com os luteranos na Alemanha, outros a Zuinglio na Suiça, e uma grande parcela com Calvino. Os fiéis, que não se misturaram, continuaram anabatistas puros. Até hoje existe algumas igrejas com o nome denominacional "valdense". 

fonte: http://br.geocities.com/batistacatanduva/

  Os Anabatistas do Século XVI - Um Povo de Testemunho


Os AnabatistasNota do tradutor: 

Os anabatistas são, na realidade a continuação de um movimento que preservou a fé ao longo da história, desde os tempos de Paulo, o apóstolo, nos vales do Piedmont. Conseguimos localizar os Irmãos ainda no ano 900, mas a documentação maior está disponível a partir de 1160 com a conversão de Pedro Waldo. Foi então que os Irmãos receberam o nome de waldenses, mas eram antes conhecidos apenas como Irmãos. Depois esses Irmãos foram recebendo outros apelidos ao longo da história como wiclifistas, hussitas, anabatistas, menonitas, moravianos, mas eram sempre os mesmos Irmãos do início do século. Vale a pena ler a história deles.

Lá pelo ano de 1524, na Alemanha, muitas das igrejas dos irmãos, como as que
existiam desde tempos remotos em várias partes do mundo repetiram o que acontecera em Lhota em 1467: declararam sua independência como congregações de crentes e determinaram várias regras que as novas igrejas deveriam obedecer para serem fundamentadas no ensinamento das escrituras. Como acontecera em Lhota, os membros que ainda não haviam sido batizados, foram imersos nas águas e batizados. * Daí esse grupo recebeu um novo nome, nome que eles mesmos repudiavam, porque era um epíteto que os identificava como uma nova seita, um nome ofensivo: O novo nome, anabatistas (batizados outra vez).

Ao longo dos anos os comunistas e subversivos da ordem e da moralidade da época foram chamados também de anabatistas, exatamente para ferir os Irmãos. Mas os Irmãos não tinham ligação alguma com os que subvertiam a ordem. Todos os que perseguiam os Irmãos sabiam que eles eram justos e retos e que nada tinham a ver com a desordem social. 


Assim como nos tempos remotos a literatura dos cristãos tinha sido destruída, e sua história escrita por seus inimigos, assim aconteceu no século XVI. Tendo em vista a violência do linguajar, coisa comum naqueles tempos de controvérsia religiosa, é necessário pesquisar tudo o que restou do que escreveram esses Irmãos.

Num relatório feito pelo Concílio do Arcebispo de Colônia sobre o movimento
anabatista e enviado ao Imperador Carlos V é mencionado que os anabatistas se dizem ser os “verdadeiros cristãos”, que desejam compartilhar seus bens “o que tem sido feito pelos anabatistas por mais de mil anos, como testificam as leis imperiais e a própria história”.


Quando o parlamento de Speyer foi dissolvido foi dito que “a nova seita dos anabatistas” havia sido condenada centenas de anos atrás e “proibido pelas leis comuns”. O fato é que por mais de doze séculos (1200 anos) o batismo como é ensinado e descrito no Novo Testamento era condenado como uma ofensa às leis e punido com a pena de morte.

O período da Renascença fez que muitos irmãos que viviam escondidos por causa da perseguição ressurgissem em várias localidades. Um edito eclesiástico publicado em Lyon contra um dos irmãos dizia: “Das cinzas de Pedro Waldo muitos ressurgem e faz-se necessário a imposição de punições duras e severas que sirvam de exemplo aos demais”.


Muitos dos crentes ressurgiram nos vales suíços, e tratavam uns aos outros como irmãos e irmãs, e descobriram que o que estava acontecendo não era novidade, e tinham certeza de que perpetuavam o testemunho dos que durante séculos foram perseguidos como“heréticos” como mostram os registros dos martírios.

Na Suíça os cristãos perseguidos costumavam se refugiar nas montanhas, enquanto na Alemanha refugiavam-se sob as leis do Trade Guilds. A Reforma fez que muitos irmãos que viviam escondidos passassem a fazer parte das igrejas existentes. Os irmãos formavam também novas igrejas cujo rápido crescimento chamou a atenção da igreja estatal, tanto a Católica Romana como a Luterana. Um observador simpatizante, não um dos irmãos,escreveu que em 1526 um novo partido surgiu, espalhando-se tão rapidamente que sua doutrina logo permeou todo o país atraindo seguidores; muitos que tinham o coração sincero e temiam a Deus juntaram-se aos irmãos. Ensinavam apenas sobre o amor, a fé,sobre a cruz, e eram pacientes e humildes diante do sofrimento alheio; partiam o pão nas casas uns dos outros como demonstração de unidade e de amor, e ajudavam-se mutuamente. Agruparam-se e cresceram tão  
rapidamente que o mundo temeu que eles fossem provocar uma revolução, no entanto nunca se provou nada contra eles neste sentido,e este pensamento vil jamais lhes penetrou a alma, ainda que em alguns lugares eram tratados de maneira tirânica.

Esses irmãos eram cuidadosos no estudo da Palavra de Deus como guia de suas
vidas e não se submetiam ao domínio de homens, no entanto reconheciam a necessidade de escolher anciãos ou presbíteros para supervisionar as igrejas, indicando pessoas que se caracterizavam pelos dons do Espírito Santo para que fossem seus guias. Um desses proeminentes guias na época foi o Dr. Balthazar Hubmeyer.Depois de ter uma brilhante carreira como professor de Teologia na Universidade de Freiburg, ele foi indicado (1516) para ser o pregador da catedral de Regensburg, atraindo muita gente com suas pregações.
Três anos depois mudou-se para Waldshut, e lá experimentou uma profunda mudança, aceitando os ensinamentos de Lutero, sendo acusado de se deixar influenciar pela heresia dos boêmios (John Huss), isto é, os ensinamentos dos irmãos da Boêmia. No dia 11 de Janeiro de 1524 ele convidou os Irmãos para se reunirem em sua casa trazendo suas Bíblias.

Ele explicou que o motivo da reunião era ajudar os irmãos a se familiarizarem com a Palavra de Deus para que pudessem alimentar o rebanho de Cristo, lembrando-os que desde os tempos apostólicos os que eram chamados para serem ministros da Palavra Divina se encontravam para, mutuamente buscar conselhos e tratar as questões pertinentes à fé. Algumas perguntas foram feitas pra que eles honestamente pudessem entender à luz das escrituras, prometendo-lhes que, no que fosse possível de sua parte, ele forneceria as refeições por sua própria conta.

Hubmeyer expressou-se assim: “A igreja de Cristo é universal em sua comunhão, e formam uma irmandade de muitos crentes piedosos que em comum acordo honram o Senhor, tendo um só Deus, uma só fé e um só batismo”. A igreja, disse ele, “é a assembléia de todos os crentes onde quer que estes estejam na terra...”. Ou: “Homens e mulheres separados do mundo que amam a Cristo”, e explicou: “Existem duas igrejas, uma cobrindo a outra, a igreja geral e a igreja local... a igreja local faz parte da igreja universal, que inclui todos os remidos...”.

Quanto à comunhão dos bens materiais, afirmou que cada irmão deve ajudar o outro em suas necessidades, pois nada do que temos nos pertence, foram-nos confiados como mordomos de Deus. Considerou que, quanto ao pecado o poder da espada foi entregue aos governos da terra, e que a eles temos de nos submeter no temor de Deus. Essas reuniões eram realizadas quase sempre em Basle onde Hubmeyer e seus amigos buscavam conhecer as Escrituras com zelo, e tratavam dessas questões práticas da época.

Basle tornou-se um centro de atividade espiritual. As gráficas não temiam editar livros tidos como heréticos, e imprimiam obras de Marcílio de Pádua e de John Wycliff que eram distribuídas para o mundo. Irmãos habilidosos e talentosos se reuniam com Hubmeyer para estudar a Bíblia. Comenta-se que um deles, Wilhelm Reublin expunha as escrituras de maneira excelente, sem paralelo naqueles dias. Por causa dele o número de fieis aumentou nas igrejas. Ele havia sido padre em Basle e, durante a celebração de Corpus Cristo levava a Bíblia no andor em vez de imagens... Ele foi batizado e mais tarde, enquanto vivia em Zurique foi expulso do país, mas continuou a pregar na Alemanha e na Moravia. Havia sempre Irmãos que vinham de fora, porque as igrejas de diferentes países continuavam a manter comunhão entre elas. Dentre esses se encontrava Richard Crocus da Inglaterra,homem culto que exerceu grande influência entre os estudantes, e muitos deles vinham da França e da Holanda para aprender com ele.

Em 1527 convocaram outra conferência de irmãos na Moravia e Hubmeyer se fez presente. Os irmãos se reuniram sob a guarda do Conde Leonhard e de Hans Von Lichtenstein. O conde foi batizado por Hubmeyer durante a conferência, e ele mesmo fora batizado dois anos antes por Reublin. Na mesma conferência 110 pessoas foram batizadas e outras 300 mais tarde pelo próprio Hubmeyer, entre esses a esposa de Hubmeyer, filha de um cidadão de Waldshut. No mesmo ano Hubmeyer e sua esposa fugiram do avanço do exército austríaco e perderam todos os seus bens. Foram para Zurique onde foi encontrado pelos seguidores de Zwinglio e lançado na prisão.

A cidade e Cantão, na Suíça viviam, nesta época sob a influência de Ulrich Zwinglio que começara a reforma protestante na Suíça bem antes de Lutero na Alemanha. A doutrina dos reformadores suíços que diferia, em alguns aspectos da ensinada por Lutero espalhara-se pelos muitos Cantões penetrando também em alguns estados da Alemanha.

O Concílio de Zurique promoveu uma disputa entre Hubmeyer e Zwinglio em que Hubmeyer, alquebrado pelas condições físicas difíceis que teve de suportar na prisão foi suplantado por seu oponente, mais robusto. Com medo de ser entregue nas mãos do imperador, chegou a se retratar de alguns de seus ensinamentos, mas imediatamente se arrependeu desta sua atitude de ter medo dos homens pedindo a Deus que o perdoasse e que o restaurasse.

Dali seguiu para Constância, depois foi para Augsburg onde batizou a Hans Denck. Em Nikolsburg na Moravia, Hubmeyer se lançou a escrever e publicou dezesseis livros. Durante sua curta permanência no distrito cerca de seis mil pessoas foram batizadas e o número de membros chegou a 15 mil. Os Irmãos não pensavam iguais em várias coisas, e quando o eloqüente pregador Hans Hut veio a Nikolsburg e ensinou que não era bíblico a um cristão portar armas em defesa da pátria, ou para defesa pessoal, ou ainda que não era bíblico que se pagasse impostos que seriam usados em guerras, Hubmeyer se lhe opôs severamente. Em 1527 o rei Ferdinando exigiu que as autoridades lhe entregassem a Hubmeyer e ele foi levado para Viena onde Hubmeyer foi torturado e executado. Sua esposa o animou a permanecer fiel, e alguns meses depois de chegar a Viena foi levado ao cadafalso na praça pública. Sua voz ecoou pela praça: “Ó meu Deus querido, dá-me paciência para sofrer o martírio! Ó Pai, agradeço-te porque hoje vais me tirar deste vale de tristezas. Ó Cordeiro, Cordeiro, que tiras o pecado do mundo! Ó meu Deus, em tuas mãos entrego meu espírito!”. De dentro das chamas ouviu-se seu clamor: “Jesus! Jesus!”. Três dias depois sua corajosa esposa foi lançada de uma ponte sobre o rio Danúbio com uma pedra amarrada ao pescoço e morreu afogada.

Um dos mais influentes irmãos que conduziu as igrejas nos agitados dias da
Reforma foi Hans Denck. * Natural da Bavária, Hans estudou em Basle onde se formou e deve ter entrado em contato com Erasmo e o brilhante círculo de eruditos e editores que lá e reuniam. Encarregado de cuidar de uma das mais famosas escolas de Nurembergue pra lá se mudou em 1523, cidade em que o movimento luterano havia um ano se fortalecia sob a orientação do talentoso jovem Osiander. Denck, também um jovem de cerca de 25 anos de idade, esperava que o novo movimento trouxesse moralidade e justiça, mas descobriu que este era um defeito do ensinamento no movimento de Lutero, o qual, insistindo na doutrina da justificação pela fé, sem as obras e na abolição de muitas coisas ensinadas pela igreja católica, negligenciou a urgente necessidade de obediência, autonegação, e o discipulado a Cristo como coisas essenciais da fé. Percebendo essas coisas aos poucos Osiander (1551) mostrou que o ensinamento de Wittenberg apenas deixou as pessoas “seguras e descuidadas” “A maior parte delas”, escreveu, “não gosta do ensinamento que requer moral e que põe em cheque os desejos naturais. No entanto, querem ser chamadas de cristãos, e dão ouvidos aos hipócritas que propagam que nossa justiça se baseia apenas na justiça de Deus, e, mesmo sendo maus, afirmam, nossa justiça não está em nós, mas fora de nós. Assim, conforme este ensinamento, tais pessoas podem ser consideradas santas.”

“Ai dos que pregam que a pessoa pecadora não pode ser considerada piedosa;
muitos ficam furiosos quando ouvem isto, como vimos e experimentamos; e gostaríamos que tais pregadores fossem expulsos ou mortos, mas, não sendo possível, o povo fortalece esses pregadores hipócritas elogiando-os, dando-lhes presentes e proteção, para que vivam felizes sem ter de dar ouvidos à verdade, e assim, os falsos santos e os falsos pregadores são iguais, assim como o povo, assim seus sacerdotes”.

Denck foi denunciado aos juízes da cidade por Osiander. Os juízes convocaram
Denck a comparecer diante deles e diante dos oponentes luteranos. Na disputa que se seguiu, Denck conforme o testemunho de um opositor, “mostrou-se tão capaz que ninguém podia discutir com ele”. Pediram-lhe que escrevesse sua defesa em sete pontos previamente arranjados. Denck apresentou sua defesa, para a qual Osiander não teve argumento. O caso foi levado ao conselho da cidade. E foi assim que em 1525 solicitaram a Denck que se afastasse 16 quilômetros da cidade, do contrário seria preso. Na manhã seguinte Denck se despediu e viveu errante pelo resto de sua vida.

Em sua “confissão” Denck reconheceu sua triste natureza, mas reconhecia que
dentro dele havia uma força que lutava contra o pecado anelando por bênçãos espirituais. Disseram-lhe que essas coisas se obtinha pela fé, e que a fé deveria ser algo mais do que mera aceitação do que se lia ou ouvia. A resistência natural à leitura da Bíblia era superada pela voz da consciência que o impelia a agir daquela maneira, e descobriu que o Cristo revelado nas Escrituras correspondia ao que havia sido revelado em seu coração. Descobriu que não podia entender as Escrituras apenas fazendo uma leitura de texto, e que somente o Espírito Santo é que a revelava ao seu coração e à sua consciência.

O documento preparado pelos ministros luteranos que lançavam a Denck no exílio afirmava que ele “confirmava” aquilo e que “suas palavras foram escritas de tal maneira e com tal entendimento cristão que seus pensamentos e o sentido do que dizia confirmava tudo” e que a unidade da igreja luterana exigia deles que assim procedessem. Sempre que retornava, Denck notava que as calúnias o precediam e que todo tipo de erros doutrinários eram-lhe atribuídos, o que levava as pessoas a evitarem-no como um homem perigoso. Ele nunca permitia que seus adversários fossem tratados como ele era tratado. Conforme o costume da época diziam o que queriam sobre Denck, mas em nenhum de seus escritos ele falava mal de seus adversários. Ao ser provocado, certa ocasião, respondeu: “Tanta coisa ruim vem sendo dita a meu respeito, mas ninguém averigua a humildade de meu coração.” E ainda: “Entristece meu coração de que eu tenha que viver em desunião com pessoas que
não posso chamar de irmãos... Portanto, enquanto Deus me der forças não farei de meu irmão um adversário, nem de meu Pai um juiz, mas quero ser reconciliado com todos os meus adversários”.

Depois de viver durante certo tempo no lar hospitaleiro de um irmão em St. Gallen, Denck precisou partir, pois seu hospedeiro entrou em conflito com as autoridades locais.


Encontrou, então refúgio em Augsburg, por influência de seus amigos. Em Augsburg não havia apenas uma acirrada luta entre luteranos e zwinglianos e entre esses e os católicos, mas grande depravação moral que afetava todo o povo. Ele passou a ter compaixão daquelas almas e começou a reunir os cidadãos que queriam se encontrar como irmãos na igreja confessando sua fé na obra expiatória de Cristo e comprometendo-se em seguir a Jesus por toda a vida. Por esse tempo não havia se associado aos crentes que eram chamados pejorativamente de anabatistas ou batistas, mas fazia em Augsburg o que estes faziam por toda parte, e o que ele havia visto em St. Gallen. A visita que fizera anteriormente ao Dr. Hubmeyer levou-o a decidir que deveria fazer parte dos irmãos e a ser batizado. Antes da chegada de Denck havia muitos irmãos batizados em Augsburg e a igreja rapidamente aumentou. Eram igrejas compostas de gente pobre, mas havia entre eles pessoas de posse e de posição social. Os escritos de Eitelhans Langenmantel atraía muita gente. Este era filho de um proeminente cidadão de Augsburg,catorze vezes prefeito da cidade e que ocupara cargos importantes no Estado. Em 1527 o numero de membros havia aumentado para 1.100 pessoas, e as atividades desses irmãos permitiram que fossem fundadas novas igrejas; as igrejas existentes foram fortalecidas em todos os lugares. 



Um escritor que tinha ótima fonte de informações diz: “Leva-se a crer que muitas pessoas enfermadas pela recriminação e acusações de heresias dos púlpitos, preferiam se refugiar e serem edificadas à parte de todo sectarismo... Tal ideal fazia parte dos anabatistas. Eles olhavam o passado quando no tempo glorioso dos primeiros apóstolos, de cidade em cidade começavam as primeiras igrejas cristãs, onde todos se reuniam num espírito de amor, como membros de um mesmo corpo.” 


Muitos cânticos foram escritos neste tempo; cânticos que expressavam e relatavam a maneira dos irmãos adorarem.

Quando as perseguições se intensificaram contra Denck ele partiu de Augsburg e se refugiou em Strassburgo onde havia uma grande assembléia de irmãos batizados. Os líderes do partido protestante eram dois homens habilidosos, Capito e Bucer, que não se alinhavam diretamente com Wittemberg nem com Zurique, se bem que o relacionamento destes com Zwinglio e com os reformadores suíços era mais íntimo. Capito achava que poderia permanecer em amizade com ambas as partes e ser um elo de alegria entre os dois. Não havia se posicionado na questão do batismo, mas mantinha certa amizade com muitos dos Irmãos. A presença de homens extremados entre os irmãos, dos quais não podiam se livrar,prejudicou sua influência impedindo que outras pessoas se unissem aos irmãos. Quando Zwinglio apresentou a proposta de punição de morte aos que divergiam dele, tal decisão enfraqueceu sua influência sobre Capito. Com a chegada de Denck, as condições eram tal e o número de irmãos tão grande e tão influentes que até parecia que dominavam a cena religiosa em toda cidade. Logo fez amizade com Capito que com sua piedade, habilidade e charme pessoal atraiu tanta gente pra ele, como líder confiável, não apenas os irmãos tidos como batistas, mas muitos indecisos que não sabiam que partido tomar.

Bucer ficou alarmado com o que viu, e julgando que não havia qualquer futuro para qualquer partido que não aguentaria o poder civil, ele, juntamente com Zwinglio trabalharam com tanto sucesso fazendo a cabeça do conselho da cidade que, alguns dias depois de entrar na cidade Denck foi novamente expulso. Os que o apoiavam eram tantos que ele poderia ter resistido e não ser exilado, mas ele, seguindo os princípios nos quais se firmava, de submissão às autoridades deixou a cidade em 1526.

Denck corria perigo de vida em todas as cidades. Em Worms, onde havia uma
grande congregação, ele permaneceu o tempo suficiente para traduzir os profetas. Juntamente com Ludwig Hetzer imprimiram os livros em 1527. Em três anos treze edições desta tradução foram impressas. A primeira edição foi impressa cinco vezes, e no ano seguinte mais seis edições. A edição de Augsburg foi reimpressa cinco vezes em nove meses. Logo após, Denck liderou uma conferência dos irmãos de muitos distritos em Augsburg. Ali ele se opôs aos que queriam fazer uso da força para lutar contra a perseguição. Esta reunião ficou conhecida como “a conferência dos mártires”, pois muitos que participaram dela foram mais tarde condenados à morte. Alcançando Basle, com a saúde física alquebrada pela vida de andarilho e pelas privações, ele fez contato com seu amigo de tempos atrás, o reformador Hausschein chamado Ecolampadius, que ao vê-lo em tal condição proveu um lugar agradável e seguro onde ele pudesse morrer em paz.

Antes de morrer, escreveu: “É duro e doloroso viver sem lar, mas pior ainda é saber que meu zelo deixou tão pouco fruto e resultado. Deus sabe que não anelei outra coisa na vida a não ser frutificar. De boa mente deveria glorificar o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, quer sejam as pessoas circuncidadas, batizadas ou nenhuma das duas coisas.”


Quando havia tolerância religiosa escreveu: “Nas questões de fé todos devem ser livres para expressar suas convicções”.


As disputas doutrinárias nem sempre se baseiam na verdade de uns e nos erros de outros. As dissensões costumam ocorrer porque um dos lados enfatiza demasiadamente um aspecto da verdade, enquanto o outro se agarra num aspecto diferente da mesma verdade. Cada lado sustenta o ponto de vista que lhe é favorável e minimiza ou ignora o que a outra parte considera relevante. Daí que qualquer coisa pode ser provada pelas escrituras que, sob este ponto de vista não é um guia fiel. Tal característica da Escritura, ao contrário, mostra sua completude. Não mostra apenas um lado, mas apresenta a cada momento cada fase da verdade. Assim, a doutrina da justificação pela fé somente, sem as obras que é amplamente ensinada só é equilibrada quando se ensina a necessidade das boas obras, pois estas mostram a conseqüência e são as provas da fé. Ensina-se que o homem caído é incapaz de operar boas obras, que por elas não consegue alcançar a Deus, e que a salvação tem sua origem na graça e favor de Deus para o ser humano, e se esquece que o homem é imbuído desta capacidade de buscar a salvação, e tem uma consciência que reage à divina luz da palavra, que condena o pecado e aprova a justiça. De fato, cada grande doutrina revelada nas Escrituras apresenta-se de forma equilibrada, e ambas são necessárias para o conhecimento de toda verdade. Neste sentido a palavra de Deus demonstra a obra de Deus na criação, na qual as forças opositoras cooperam juntamente para o fim necessário.

Ensina-se freqüentemente que a Reforma foi estabelecida dividindo a Europa entre Protestantes (luteranos ou zwinglianos) de um lado e a igreja romana de outro. Existe um grande número de cristãos que não pertencia a nenhuma das partes, e que se reuniam como igrejas independentes, sem depender, como os luteranos e os católicos do poder civil, mas que se empenhavam em levar a termo os princípios divinos estabelecidos no Novo Testamento. Era tão numeroso o número de cristãos independentes que as duas igrejas apoiadas pelo Estado (Luteranos e Católicos Romanos) sentiam-se ameaçadas. A razão de porque a presença desta terceira via ocupa tão-pequeno espaço na história daqueles dias se deve ao poder do Estado, das grandes igrejas católicas e protestantes que se empenharam em destruir as igrejas independentes. As igrejas que restaram da perseguição imposta pelas duas igrejas foram se enfraquecendo ao longo dos anos. O lado vitorioso se encarregou de destruir a literatura dos Irmãos, e ao escrever a história colocavam-nos como heréticos e repudiados dando-lhes apelidos que demonstravam todo o ódio que esses dois grupos tinham por eles.

Em 1527 sob a orientação de Michael Sattler e de outros líderes realizou-se uma
conferência em Baden onde houve acordo nos seguintes pontos:

(1) Que somente os convertidos deveriam ser batizados;
(2) que as igrejas deveriam exercer disciplina;
(3) que a ceia do Senhor deveria ser em memória da morte do Senhor;
(4) que os membros da igreja não deveriam ter comunhão com o mundo;
(5) que era dever dos pastores da igreja ensinar e exortar, etc.
(6) que os cristãos não deveriam portar espada nem recorrer ao judiciário;
(7) que os cristãos não deveriam jurar. Sattler pregava ativamente a palavra em
vários distritos e na primavera de 1527 visitou Estrasburgo e Württemberg. Em
Rottenburgo ele foi preso e condenado à morte por seus ensinamentos. 


Conforme a decisão da corte ele deveria sofrer mutilações físicas em vários lugares da cidade, depois levado aos portões, e o que restasse dele deveria ser lançado na fogueira (N.T. mutilado pelos protestantes).
Sua esposa e várias mulheres da igreja foram afogadas e grande número de irmãos que as acompanhavam foram jogados na prisão e decapitados. Estas foram as primeiras e terríveis mortes em Rottenburgo. Os irmãos que se reuniam aos milhares em Augsburg foram espalhados e perseguidos até a morte. O primeiro a ser morto foi Hans Leupold, ancião da igreja, que foi preso num dos cultos com outros 87 irmãos e decapitados em 1528. Na prisão, aguardando a morte escreveu um cântico que foi anexado ao hinário dos Irmãos. A maioria dos cânticos desses batistas foi escrita na prisão, e demonstram a profunda experiência de sofrimento e do amor do Senhor em suas vidas. Os cânticos tornaram-se conhecidos dos demais santos trazendo consolo e coragem diante das perseguições. Duas semanas depois o talentoso Eithelhans Langenmantel, apesar de ser amigo das famílias mais influentes foi executado juntamente com outros irmãos. Um grande número deles foi expulso da cidade, geralmente com uma cruz marcada em suas testas. Em Worms o numero de irmãos era tão grande que foi difícil dispersá-los, pois continuaram a se reunir em secreto.

Landgraf Philip de Hessen era exceção à regra aos governantes daqueles dias. Ele, corajosamente enfrentou as conseqüências por recusar assinar e obedecer as ordens do imperador Carlos V, decretado em Speyer, que ordenava a todos os governos e oficiais do império, “que todos os que se batizavam de novo, homens ou mulheres, de qualquer idade,fossem julgados e mortos na fogueira e pela espada, ou conforme a circunstância pessoal,sem julgamento prévio do juiz espiritual”. E que todos os que recusavam trazer seus filhinhos para serem batizados deveriam sofrer as penas desta mesma lei, e que ninguém deveria receber indulto sob forma alguma nem escapar do edito do império. O Eleitor da Saxônia (príncipe ou governo com direito a voto) aconselhado pelos teólogos de Wittenberg forçou Landgraf Philip a banir ou levar para a prisão alguns dos batistas, mas ele não foi além disto e pôde se orgulhar de que ninguém morreu sob seu governo.

Permaneceu firme em seu posicionamento de que quaisquer que fossem as opiniões os que erravam deveriam se converter pela instrução e não pela força. Afirmou que havia mais gente de bem entre os chamados fanáticos do que entre os luteranos, e que não poderia, por força de sua consciência permitir punir ou matar qualquer pessoa por sua fé, quando não havia razão para assim proceder.

Havia muitos irmãos no distrito de Heidelberg, Alzey e Kreuznach. Somente no ano de 1529 trezentos e cinqüenta irmãos foram mortos. Perseguições cruéis como a que aconteceu em Alzey chamou a atenção do pastor evangélico Johann Odenbach, que protestou, e portanto, merece ser honrado. O protesto foi dirigido aos “juízes encarregados de julgar os pobres prisioneiros de Alzey apelidados de anabatistas”, e afirma: 


“Vocês, pobres e ignorantes (juízes) devem clamar diligentemente e honestamente ao reto Juiz e devem orar por socorro divino, e por sabedoria e graça. Assim, vocês não sujarão suas mãos com sangue inocente, ainda que a majestade imperial e os príncipes do mundo lhes dêem ordens de matar. Esses pobres prisioneiros com seu batismo, não cometeram pecado contra Deus nem Deus os condenará por terem sido batizados, nem tão pouco agiram contra o governo ou contra a humanidade para receberem tão severa punição.Pois o batismo certo ou o segundo batismo não tem em si o poder de vida ou de morte para alguém ser condenado.”

“Temos de permitir o batismo como um sinal de reconhecimento de que somos
cristãos, de que estamos mortos para o mundo, que somos inimigos do diabo, desprezados, crucificados, que não antevemos o que é temporal, mas as eternas bênçãos; lutando constantemente contra a carne, contra o pecado e contra o diabo para poder viver a vida cristã. Muitos de vocês, juízes nem sabem a diferença entre o batismo certo e o errado para questionar os irmãos sob tortura. Com base nisto devem condenar uma pessoa à morte?


Não! Afirmo isto não para apoiar o segundo batismo, que deveria ser julgado pelas escrituras sagradas e não pela forca. Assim, meus amigos, não usurpem o que pertence à majestade divina, para que a ira de Deus não venha sobre vocês como veio sobre os habitantes de Sodoma e sobre aqueles iníquos. Vocês tratam os ladrões, os assassinos com mais misericórdia do que essas criaturas que nunca roubaram nem mataram uma só alma,que não cometeram nenhum pecado vergonhoso, não são incendiários nem traidores, mas são pessoas que foram batizadas segunda vez por amor a Deus, para honrar a Deus, sem prejudicar o próximo.”

“Como podem vocês decidir em seus corações e de sã consciência afirmar que
estas pessoas devem ser decapitadas ou culpadas? Se vocês tratassem esses irmãos como os juizes cristãos devem agir, e se soubessem instruí-los à luz do evangelho, não haveria necessidade de enforcá-los. Agindo dessa maneira com justiça, a verdadeira doutrina prevalecerá e a prisão seria assim uma punição justa. Da mesma maneira devem agir os sacerdotes, levando esses irmãos aos ombros, como ovelhas errantes, de volta a Cristo, provando que sua obrigação é a de tratá-los com amor, confortando-as, sustentando-as, e restaurando esses irmãos a doutrina evangélica."


“Não se enganem condenando essas pobres pessoas à morte. Vocês deveriam sentir terror ao tratar deste assunto, deveriam agonizar e suar sangue, pois vocês não sabem onde eles estão errando. Vocês deveriam prestar atenção quando essas pessoas dizem: Desejamos ser instruídos pelas santas escrituras, pois estamos dispostos a viver uma vida que nos seja comprovada pelos evangelhos’. Pensem na vergonha eterna que vocês terão de enfrentar. Pensem na reação do povo quando essas pessoas forem mortas! Da boca do povo se ouvirá: ‘Veja a paciência, o amor, a adoração e a maneira como este povo morre, com que coragem lutaram contra o mundo!’. Oh! Que sejamos inculpáveis diante de Deus como eles o são; de fato eles não foram vencidos, enfrentaram o ódio, e são mártires de Deus.

Todos haverão de dizer que nada foi feito contra o erro dos anabatistas para serem julgados de maneira sanguinária, e que vocês estão destruindo pela força o santo evangelho e a verdadeira pureza de Deus....”.


O resultado foi que aqueles juízes se recusaram a levar a julgamento as pessoas
acusadas por sua fé. Zwinglio fez a reforma protestante basicamente na Alemanha suíça. Em Cantão foi que ele tinha mais autoridade. Em 1523 ele impôs uma Igreja Estado em Zurique e grande conselho ficou responsável em tomar decisões nos casos que afetassem a doutrina e a igreja. Um cristão conhecido como Muller levado ao Concílio disse: “Não oprimam minha consciência, porque a fé é uma graça concedida pela misericórdia de Deus e não deve receber intervenção de pessoa alguma. O mistério de Deus está oculto e é como um tesouro escondido num campo, que ninguém pode encontrar, a menos que o Espírito do Senhor mostre a pessoa. Portanto, suplico-lhes, como servos de Deus, deixem minha fé gozar da liberdade”. Isto não lhe foi permitido. A igreja estatal adotou os princípios da velha igreja,de que é justo tratar os heréticos pela prisão e morte.

Em anos anteriores Zwinglio mantinha um bom relacionamento com os Irmãos.


 Chegou a considerar a questão do batismo e afirmou que não havia base bíblica para o batismo de crianças. À medida que crescia o movimento pela reforma, contudo, a igreja estatal passou a depender do poder civil para tomar decisões e Zwinglio se afastou dos irmãos.

Ainda que apelidados de anabatistas * não foi a forma de batismo que lhes deu
coragem para sofrer; eram pessoas que mantinham comunhão com o Redentor; nenhum homem nem uma fórmula interrompiam a comunhão dessas pessoas com Cristo. Os chamados místicos descobriram que ao viver em Cristo e Cristo neles podiam manter comunhão uns com os outros e vencer o mundo. Os que quisessem fazer parte da igreja tornando-se membro da casa de Deus, deveriam andar em Deus, e pregavam que quem estivesse fora da igreja estava fora de Cristo. O fato de rejeitarem o batismo infantil levantava questões sobre o que acontecia com as crianças que morriam cedo, mas, diziam, elas são participantes da vida eterna em Cristo.

Fonte: Pastor João

Nenhum comentário:

Postar um comentário