Google+ O MEU POVO PERECE POR FALTA DE CONHECIMENTO.: "Jesus morreu por nós", mas como assim??

segunda-feira, 27 de abril de 2015

"Jesus morreu por nós", mas como assim??

"Jesus morreu por nós", mas como assim??



Todos nós crescemos ouvindo e crendo - no caso dos cristãos - que Jesus morreu por nós na cruz para nos salvar.  Mas o que isso quer dizer??
Eu sou signatário da doutrina da substituição vicária, sistematizada por Anselmo de Canterbury na Idade Média e abraçada hoje em dia pelo evangelicalismo.  Não se trata, claro, de uma invenção ou descoberta do teólogo insular:  eu creio piamente que a realidade da substituição se encontra espraiada por toda a Sagrada Escritura, concretizada na vida e obra de Jesus Cristo e finalmente sistematizada pelo Apóstolo.


A doutrina da substituição vicária não é difícil de ser compreendida:  o homem pecou contra um Deus eterno e portanto pecou em caráter eterno.  Logo, não pode pagar por seus pecados.  Apenas um homem sem pecado poderia pagar  pelos pecados dos homens, pois não tendo cometido qualquer pecado pode substituir os pecadores.  A resposta foi a encarnação. 
O justo  morreu pelos injustos, lhes atribuindo sua justiça.  


O que sempre causou desconforto nessa ideia foi o fato de que Jesus estaria recebendo a ira de um Deus furioso, um Deus "carnificeiro" para os críticos.
Pois bem.  A teologia contemporânea tem deixado a tradicional ideia da substituição vicária de lado.  Hoje fala-se sobre uma solidariedade:  Cristo foi um modelo, um exemplo de total entrega a Deus, o homem que viveu de modo mais pleno e profundo a vocação humana de abnegação e abertura a Deus e ao próximo - e é nesse sentido que ele nos substitui, pois "abriu a porta" para que possamos seguir seu modelo e fazer o mesmo.  Posso estar pecando em omitir algum dado importante da abordagem, mas é basicamente isso.


Como estou dentro da visão "ultrapassada", é sobre ela - e dentro dela - que vim refletir.  
Não vou de modo algum negar o caráter substitutivo da morte de Cristo no Calvário. Ai de mim!!!  Embora tal perspectiva seja custosa às nossas mentes e ao nosso senso de certo/errado e à nossa própria ideia de Deus ("um Deus bondoso não poderia enviar seu Filho a fim de sofrer"), eu não estou autorizado a abrir mão dela.  Uma verdade divina não depende de minha aprovação e senso de conforto a fim de ser válida.  Muito ao contrário:  é exatamente por ser válida - e perfeita - que ela me causa desconforto.  É demais para a minha pobre mente finita, e eu não devo tentar adaptá-la ao meu gosto.

Não quero criar um modo de "adequação" da mensagem ao nosso tempo. Não adianta adequar se vou deturpar.  Meu intento é compreender para então comunicar. 


Longe de tentar substituir aquilo em que cremos por uma nova heresia, eu quero sim "mudar o foco" e fazer uma leitura, digamos, psicológica da substituição.  Por que Jesus morreu por nós?  Em termos práticos, como isso se aplica a nós?  Trata-se apenas de uma reflexão.  Talvez vire uma ideia fixa.  Espero ser corrigido a tempo.


A realidade universal do pecado se faz sentir ontologicamente nas mentes e no interior de todos os seres humanos:  todos querem fazer alguma espécie de sacrifício a fim de se redimir.  Mas isso é só a ponta do iceberg:  isso acontece porque todos sabem que erraram.  Nessa hora o Apóstolo dos gentios grita:  "porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus".  Isso é uma realidade. Resultado:  é preciso fazer algo.  A religião atesta isso: toda religião traz um modo de sacrifício substitutivo-redentivo.  A exceção poderia ser o Espiritismo, pois ali não se sacrificam pessoas nem animais; nao se fazem oferendas.  Ledo engano:  quem paga é o  indivíduo, por meio de sucessivas encarnações.  
Resumo da ópera:  há uma consciência do erro, a qual se manifesta na necessidade de se pagar e se sacrificar.

É exatamente aí que entra o Evangelho: você errou!! Sua consciência te acusa disso, por mais que seja complicado explicar por que Deus permitiu o erro.  Vamos ser práticos: a realidade do pecado é um fato, e você sabe disso! Tanto sabe que se sacrifica.  E é aí que Jesus entra:  ele já sofreu de uma vez por todas o que você vive sofrendo para pagar.  Ele, que não tinha quaisquer pecados, pagou pelos nossos.  Já imaginou que alguém te amaria assim??  Olha isso, rapaz!!
Me parece que toda a doutrina da substituição gira exatamente em torno dessa "psicologia do pecado":  o homem ficou com esse peso na consciência, e Cristo vem então nos dizendo que ele pagou e já resolveu tudo.  Catártico, não?? Extremante simbólico!!  Deus respondendo à nossa angústia... Novidade demais, eu concordo.  Nada ortodoxo.  Nesse caso - e agora eu dou um passo perigoso - a "ira de Deus" foi o modo como a Igreja Primitiva elaborou essa consciência do erro.  Se isso era um modo de percepção da realidade ou se de fato eles sabiam profundamente do que estavam falando e o que estavam fazendo, pergunte aos universitários.   Tampouco estou apto a responder como essa "releitura" vai ser "relida" dentro dos nossos tradicionais sistemas teológicos.

Isso vai redimensionar toda a nossa leitura da Palavra.  O sistema legal e sacrificial no Antigo Testamento seria então um modo de responder à realidade do pecado e seu impacto sobre o inconsciente individual e sobre o inconsciente coletivo.  Os sacrifícios seriam também simbólicos e aliviadores, porém constantes, já que insuficientes (acho que aqui não é tudo "novidade", mas é importante mencionar isso dentro da "heresia" que proponho).
Eu confesso que parece que não estou simplesmente mudando o foco:  estou virando nosso modo de enxergar a Bíblia de cabeça para baixo...
Minha esperança é, entretanto, que estejamos sim diante de mais uma faceta do Evangelho, um aspecto da morte de Cristo até então não explorado e que pode vir à tona por conta do tempo em que vivemos.   Assim minha consciência fica aliviada diante da possibilidade de estar dando asas de fato a um vento herético.

Mas acho que algo ficou bem claro:  o sacrifício substitutivo de Cristo dá uma ótima resposta e alívio às mentes cheias de peso.  Deus te amou tanto que mandou o Filho dele para tomar o teu lugar.  Está consumado!

URL da imagem:  http://www.sitedopastor.com.br/wp-content/uploads/2015/02/download25.png

- Para saber mais (os livros em azul são de orientação evangélica; os em verde são católicos):

HOEKMA, Anthony.  Salvos pela graça:  a doutrina bíblica da salvação.  Editora Cultura Cristã:  São Paulo, 2002.
MIRANDA, Mário França.  A salvação de Jesus Cristo:  a doutrina da graça.  Edições Loyola:  São Paulo, 2004.

RAUSCH, Thomas P.  Quem é Jesus?  Uma introdução à cristologia.  Editora Santuário: Aparecida, 2006.

RÚBIO, Alfonso Garcia.  O encontro com Jesus Cristo vivo:  um ensaio de cristologia para nossos dias.  Paulinas:  São Paulo, 2012.

SCHAEFFER, Francis A.  A obra consumada de Cristo. Editora Cultura Cristã:  São Paulo,   2003.

http://ulissesaraujos.blogspot.com.br/2015/04/jesus-morreu-por-nos-mas-como-assim.html?showComment=1430142387011#c6935226136821390545

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